MINHA HISTÓRIA

     Minha trajetória é marcada por determinação, dedicação incansável e amor incondicional à família e por minha comunidade. Aprendi valores de resiliência, perseverança e cuidado com o próximo com minha mãe.

      Sou goiana por nascimento, criada em Cuiabá e sul-mato-grossense de coração. Minha mãe criou-me sozinha após ser expulsa de casa quando ficou grávida e não ter o acolhimento do meu pai. Cresci em meio às adversidades, aprendendo desde cedo o valor do trabalho árduo e da resiliência.

     Minha infância foi marcada por dificuldades financeiras. Mesmo sem a presença do pai biológico, que se recusou assumir responsabilidades e oferecer apoio até mesmo no momento do parto, tornei-me uma mulher forte. Essa rejeição fortaleceu meu senso de independência e determinação e aos 12 anos de idade comecei a trabalhar para ajudar no próprio sustento, destaquei me na escola, conquistei oportunidades que pareciam impossíveis para alguém com minha origem e idade.

     Com o tempo, a minha mãe casou-se e teve mais dois filhos. Assumi papel de responsabilidade nessa nova dinâmica familiar, cuidando dos irmãos mais novos desde cedo para permitir que minha mãe pudesse trabalhar e continuar seus estudos, cujo sonho era não mais ser professora e sim se tornar uma promotora de justiça. Sonho realizado, e depois de muita dedicação finalizou a carreira como Procuradora de Justiça no Mato Grosso, onde veio a falecer de covid-19 em 2020. Dela herdei o sentimento de justiça social, de proteção aos mais vulneráveis, ao bem público e do dever de pensar na coletividade. Essa experiência aprofundou ainda mais minha determinação e senso de dever.

     Conheci meu pai biológico aos 14 anos. Apesar ter sido registrada como filha do meu padrasto, meu pai biológico, depois que me casei, reconheceu minha paternidade. Fui presenteada com mais um irmão e uma irmã. O perdão é o maior dos sentimentos e a família supera todos os revezes da vida.

       Aos 18 anos, casei-me e tivemos filhos. Éramos dois jovens estudantes, com muitos sonhos e poucos recursos. Formei-me em Odontologia e meu marido em Direito. Ele se tornou Juiz de Direito. Jovens, com poucos recursos financeiros e com filhos, “movemos o universo”, para que tudo desse certo. Resiliência, determinação e amor sempre estiveram presentes.

           Nesses 30 anos de união, o respeito mútuo e a admiração nos tornou mais fortes. Hoje temos três filhos, duas meninas e um menino, que optaram por se dedicar à medicina. Seus sonhos, que compartilho enquanto profissional da saúde, vêm do desejo de ajudar as pessoas, aliviar o sofrimento e contribuir para a melhoria da saúde e qualidade de vida dos pacientes.

        Se minha mãe, enquanto membro do Ministério Público, era a inspiração para a luta pelos direitos de igualdade, pelos direitos sociais e direito de garantia mínimo de vida digna, o meu marido, entanto juiz, é a inspiração para a luta pela justiça, pela vontade de atuar para dar ao outro o que lhe é devido.

           Tenho 48 anos e com todas as dificuldades financeiras e superação de desafios para ter uma vida melhor, tornei-me uma mulher aguerrida e consciente do meu papel na sociedade, que se pauta em lições sobre justiça, empatia e cuidado com o próximo. Busco ser protagonista na construção de uma sociedade mais justa e equitativa, mas que sejam levadas em consideração as necessidades individuais e circunstâncias específicas, de modo a garantir oportunidades e acesso justo aos recursos, serviços e benefícios para todos os membros da sociedade, independentemente de sua origem, raça, gênero, orientação sexual, religião ou qualquer outra característica.